Perspectivas das condições ambientais

Em 23/12/11 00:07.


Opinião

Perspectivas das condições ambientais


Dentre as grandes potencialidades do Brasil, destaca-se a pujante flora que despertou um grande interesse nos naturalistas no Século XIX, principalmente naqueles do continente europeu.

De acordo com a literatura do Século XIX, foram os primeiros a percorrer várias províncias do Brasil, sendo que a Província de Goiás constituiu um dos focos de interesse desses naturalistas. Podemos destacar os primeiros a percorrerem a nossa província: Johann Emmanuel Pohl, Karl F. P. Von Martius, Auguste de Saint-Hilaire, William J. Burchell, Peter Wilhelm Lund, Ludwig Riedel, George Gardner, Hugh Algernon Weddell, Ernest H. G. Ule e Auguste F. Marie Glaziou, que realizaram estudos sobre a flora, fauna, clima, condições ambientais e socioeconômicas dos locais por eles percorridos.

Preocupados em ampliar os conhecimentos sobre a flora do Estado de Goiás, hoje, os Estados de Goiás e Tocantins elaboramos um Plano de Coleção das plantas ocorrentes no Estado. Procuramos , também, acompanhar as alterações ambientais com o fim de alertar as autoridades e a sociedade para a necessidade de conservação das condições do ambiente.

O Plano de Coleta iniciou-se em 1968 e completou em 1974. Todo o acervo botânico encontra-se depositado no Herbário da Universidade Federal de Goiás. Em decorrência das coletas, começou a publicação da Flora dos Estados de Goiás e Tocantins – Coleção Rizzo. Essa coleção conta hoje com 37 volumes publicados de fanerógamas e sete de criptógamas.

Dentre os naturalistas que estiveram na Província de Goiás, no Século XIX, escolhemos o naturalista Auguste de Saint-Hilaire, que percorreu a parte meridional da Província de Goiás. Não só a flora, muito deve ao naturalista pela descrição de várias espécies e pelo estudo relacionado com a Fitogeografia Ecológica, ao observar o complexo meio físico versus plantas e condições socioecológicas.

Auguste de Saint-Hilaire penetra na Província de Goiás, vindo da Província de Minas Gerais em 27 de maio de 1819, partindo em direção a Santa Luzia (Luziânia) passando por Santo Antônio dos Montes Claros (Santo Antônio do Descoberto), deslocando-se por Corumbá de Goiás, Meia Ponte (Pirenópolis), Jaraguá, Vila Boa (Goiás) e Aldeia de São José (Mossâmedes), retornando à Vila Boa (Goiás) e prosseguindo a sua viagem, passou por Curralinho (Itaberaí), em direção novamente a Meia Ponte (Pirenópolis), Bonfim (Silvânia), Caldas Velha (Caldas Novas) e partiu para Santa Cruz de Goiás e retornou à Província de Minas Gerais.

Percorremos, na década de 1990, os locais e os caminhos seguidos pelo ilustre naturalista francês, na região meridional de Goiás e procuramos cotejar os dados obtidos em nossa pesquisa com os que foram levantados por Auguste de Saint-Hilaire, retirando de seus registros, as informações que nos parece mais significativa para um estudo comparativo, especialmente em relação às condições ambientais. O resultado dessa comparação permite-nos fazer projeções sobre o futuro ambiental do Estado de Goiás e, por extensão do País; certamente essas reflexões podem contribuir para a definição de forma mais sensata de interação homem-meio ambiente.

Como exemplo da sua preocupação com as condições ambientais, o naturalista Saint-Hilaire, manifesta com suas palavras proféticas a destruição da nossa cobertura vegetal:

“No meio das matas que o Paranaíba contorna e das quais falei ainda à pouco, tinham-se cortado as árvores em um espaço de alguns hectares, para aí fazer-se uma plantação. Segundo o costume, pusera-se fogo aos troncos abatidos e ele se comunicará à floresta. Vi árvores gigantescas queimadas pela base do tronco, cair com fracasso e quebrar na queda, aquelas que o fogo ainda não atingira. Assim, por alguns alqueires de milho, arrisca-se por falta de precauções, a perder uma floresta inteira; e não estar longe o tempo em que os brasileiros se queixarão de não possuírem matas” (Saint-Hilaire, p. 235-6, Viagem às nascentes do Rio São Francisco e pela Província de Goiás. Trad. de Clado Ribeiro de Lessa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1994. 2v.).

Do nosso percurso, seguindo aproximadamente o de Saint-Hilaire, pudemos comprovar que na sua entrada na Província de Goiás até os dias atuais, transcorridos quase 200 anos, profundas modificações se processaram trazendo benefícios em inúmeros setores: educação, saúde, transporte, meios de comunicação e outros; entretanto, as condições ambientais sofreram e vêm sofrendo profundas alterações ao longo desses anos.


José Ângelo Rizzo, doutor, é professor emérito



Fonte: José Ângelo Rizzo